Arrependimento

Arrependimento

É importante considerar como o evangelho afeta e transforma o ato do arrependimento. Na ‘religião’ o propósito do arrependimento é basicamente manter Deus feliz, de forma que ele continuará te abençoando e respondendo suas orações. Isso significa que esse ‘arrependimento religioso’ é a) egoísta, b) promotor de justiça própria, c) e amargo até o fim. Mas no evangelho o propósito do arrependimento é repetidamente chegar à alegria da nossa união com Cristo para enfraquecer nossa necessidade de fazer algo contrário ao coração de Deus. Na religião nos entristecemos com o pecado somente por causa das suas consequências para nós. Ele nos trará castigo – e queremos evitar isso. Assim, arrependemos. Mas o evangelho nos diz que o pecado não pode nos levar ultimamente à condenação (Romanos 8:1). Sua atrocidade é, portanto, o que ele causa a Deus – ele o desagrada e desonra. Assim, na religião o arrependimento é centrado no homem; o evangelho o torna centrado em Deus.Na religião nos entristecemos principalmente pelas consequências do pecado, ma no evangelho somos entristecemos com o pecado em si. Além do mais, o arrependimento ‘religioso’ é uma justiça própria. O arrependimento pode facilmente se tornar uma forma de ‘expiação’ pelo pecado. O arrependimento religioso frequentemente se torna uma forma de autoflagelação, na qual convencemos Deus (e nós mesmos) de que estamos tão verdadeiramente miseráveis e pesarosos que merecemos ser perdoados. No evangelho, contudo, sabemos que Jesus sofreu e foi feito miserável por causa do nosso pecado. Não temos que sofrer para merecer o perdão. Simplesmente recebemos o perdão conquistado por Cristo. 1 João 1:8 diz que Deus nos perdoa porque ele é ‘justo’. Essa é uma declaração notável. Seria injusto Deus nos negar o perdão, pois Jesus adquiriu nossa aceitação! Na religião adquirimos nosso perdão através do nosso arrependimento, mas no evangelho apenas o recebemos. Por último, o arrependimento religioso é “amargo até o fim”. Na religião nossa única esperança é viver uma vida boa o suficiente para Deus nos abençoar. Portanto, cada ocorrência de pecado e arrependimento é traumática, anormal e horrivelmente ameaçadora. Somente sob grande pressão uma pessoa religiosa admite que pecou, pois sua única esperança é sua bondade moral. Mas no evangelho o conhecimento da nossa aceitação em Cristo torna mais fácil admitir que somos falhos (pois sabemos que não seremos rejeitados se confessarmos as verdadeiras profundezas da nossa pecaminosidade). Nossa esperança está na justiça de Cristo, não na nossa própria; assim, não é traumático admitir nossas fraquezas e deslizes. Na religião nos arrependemos cada vez menos. Mas quanto mais aceitos e amados no evangelho nos sentimos, mais e mais nos arrependeremos. E embora, certamente, sempre haja alguma amargura em todo arrependimento, no evangelho há no final uma doçura. Isso cria uma nova dinâmica radical para o crescimento espiritual. Quanto mais você vê suas faltas e pecados, mais preciosa, eletrizante e maravilha a graça de Deus parecerá ser para você. Por outro lado, quanto mais ciente você estiver da graça de Deus e da aceitação em Cristo, mais você será capaz de abandonar suas justificativas e negações, e admitir as verdadeiras dimensões do seu pecado. O maior de todos os pecados é uma falta de alegria em Cristo.

Tim Keller