Permita-me apresentá-lo a deus

Permita-me apresentá-lo a deus

Permita-me apresentá-lo a deus. (Observe o "d" minúsculo.) Talvez você queira abaixar a sua voz antes de entrarmos. Ele pode estar dormindo neste momento. Ele é velho, você sabe, e não entende muito ou não gosta muito deste mundo moderno e "exótico". Seus dias áureos — sobre os quais ele fala quando você consegue realmente motivá-lo — foram há muito tempo, antes da existência da maioria de nós. Eram os dias em que as pessoas se importavam com o que ele pensava sobre as coisas e o consideravam muito importante para suas vidas.

É claro que tudo isso mudou agora, e deus — coitadinho — nunca se ajustou muito bem. A vida avançou e o deixou para trás. Agora, ele gasta a maior parte de seu tempo pairando lá atrás, no quintal. Eu vou lá, algumas vezes, para vê-lo. Lá nos demoramos, caminhando e conversando, branda e amavelmente entre as rosas.

De algum modo, as pessoas ainda gostam dele, parece — ou, pelo menos, ele consegue manter bens elevados seus números de pesquisa de opinião. E você ficaria surpreso, em saber quantas pessoas ainda aparecem de vez em quando, para visitá-lo e pedir-lhe coisas. Mas, é claro, isso não o entristece. Ele existe para ajudar.

Ainda bem que todas as esquisitices sobre as quais você leu, às vezes, nos antigos livros dele — você sabe o que estou dizendo: a terra engolindo pessoas, chuva de fogo sobre cidades e coisas semelhantes — tudo isso parece que desapareceu em sua idade. Agora, ele é apenas um amigo legal, de pouca intimidade, com o qual é fácil alguém conversar — em especial, porque ele quase não fala de volta e, quando o faz, é geralmente para dizer-me, por meio de alguns "sinal" estranho, que aquilo que desejo fazer está certo para ele. Esse é realmente o melhor tipo de amigo, não é?

E você sabe qual é melhor coisa sobre ele? Ele não me julga. Nunca, por nada. Sim, eu sei que, no seu íntimo, ele quer que eu seja melhor — mais amável, menos egoísta e coisas assim — mas ele é realista. Sabe que sou humano e que ninguém é perfeito. E tenho a plena certeza de que ele se contenta com isso. Perdoar as pessoas é o seu trabalho.

É o que ele faz. Afinal de contas, ele é amor, certo? E eu gosto de pensar no amor como "nunca julgar e somente perdoar". Esse é o deus que eu conheço. Não desejo tê-lo de qualquer outra maneira. Bem, espere um momento... agora, podemos entrar. E não se preocupe, não temos de demorar muito. Realmente. Ele se sente grato por qualquer tempo que possa obter de nós.

Ora, essa breve divagação é um tanto ridícula. Contudo, pergunto-me se ela não expressa o que muitas pessoas, até aquelas que se chamam cristãs, pensam sobre Deus. Para a maioria, Deus é uns velhinho bastante amoroso, cordial, afável, levemente entorpecido e necessário, que deseja, mas não faz exigências, e pode ser ignorado sem consequências, se você não tem tempo para ele; é muito, muito, muito compreensivo do fato de que os seres humanos cometem erros — muito mais compreensível do que nós o somos.

Greg Gilbert