Ele é meu bem, e não elas

Ele é meu bem, e não elas

Meus olhos apreciam as formas belas e variadas, as cores brilhantes e amenas. Oxalá elas não me acorrentassem a alma! Oxalá ela só fosse presa pelo Deus que criou coisas tão boas: ele é meu bem, e não elas. Todos os dias, estando acordado, elas me importunam sem o descanso das vozes que se calam, e às vezes de tudo o que existe, quando silencia. A própria rainha das cores, a luz que inunda tudo o que vemos, e onde quer que eu esteja durante o dia, acaricia-me de mil modos, mesmo quando estou ocupado em outra coisa e não lhe dou atenção. E ela se insinua tão fortemente que, se de repente me for tirada, a desejo, a procuro e, se sua ausência se prolonga, a alma se entristece. Mesmo eu, que exponho e compreendo essas verdades, deixo-me enredar nessas belezas; mas tu me livras de seu laço, tu me libertas, porque tua misericórdia está diante de meus olhos. Miseravelmente eu caio, e tu me levantas misericordiosamente, às vezes sem que eu o perceba, quando minha queda foi suave, e outras infligindo-me uma pena, por ter ficado preso ao chão.

Agostinho